EMBAIXADOR DA ANGOLANO CONSIDERA BOAS AS RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS COM JAPÃO

10 de Março de 2023

Luanda – O embaixador de Angola no Japão, Rui Orlando Xavier, considera “boas” as relações de cooperação entre os dois países, no domínio político e económico, e enaltece o esforço japonês no processo de desminagem.

Por: Falcão de Lucas, jornalista da ANGOP

Em entrevista exclusiva à ANGOP, no quadro da visita oficial de trabalho que o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, cumprirá no Japão, de 12 a 15 do mês em curso, o diplomata falou, também, do volume de negócios entre os dois países.

 Durante a conversa, o embaixador, nomeado pelo Presidente da República em 2018, abordou, igualmente, questões relacionadas com os investimentos japoneses em Angola, a formação de quadros angolanos e a desminagem, que, segundo disse, vai ajudar o país “a livrar-se das minas antipessoais até 2025, com impacto na diversificação económica e na segurança das pessoas”.

Eis a entrevista na íntegra:

ANGOP – Como avalia o estado das relações entre Angola e o Japão?

Rui Xavier (RX) – As relações entre os dois países são consideradas boas, tanto do ponto de vista político como económico.

Como é sabido, as relações datam de Setembro de 1976, tendo Angola inaugurado a sua Embaixada em Tokyo em Novembro de 2001, e, quatro anos depois, coube ao Japão abrir a sua representação diplomática em Luanda.

O Japão procedeu, igualmente, à abertura do escritório da Agência de Cooperação Internacional (JICA), em 2007, na capital angolana, Luanda.

ANGOP – Sobre que áreas incide o volume de negócios entre os dois países?

RX – As trocas comerciais de bens transacionadas entre Angola e o Japão representaram 108 milhões de dólares norte-americanos (USD) em exportações e USD 489 milhões em importações, no período de 2020-2022, correspondendo a um saldo negativo da balança comercial de cerca de USD 380 milhões.

Angola exporta, essencialmente, combustíveis (petróleo bruto, propano e butano) e, em contrapartida, importa veículos, autopeças, materiais de transporte, máquinas, aparelhos, plásticos, borracha (pneumáticos, tubos de borracha), ferro e aço.

ANGOP – Ainda no quadro da cooperação bilateral, já existe alguma data para a conclusão do acordo sobre a liberalização e promoção de investimentos entre os dois Estados?

RX – Ainda não existe uma data para a conclusão deste importante acordo, mas posso assegurar-lhe que os Ministérios das Relações Exteriores de Angola e dos Negócios Estrangeiros do Japão estão a trabalhar afincadamente para o término do mesmo, muito proximamente. Faltam pequenos detalhes, principalmente em alguns anexos, para se fechar o documento. Estamos optimistas.

ANGOP – A diversificação da economia angolana é uma das ‘bandeiras’ do Executivo angolano, liderado pelo Presidente João Lourenço. Em que sectores o Governo e os empresários japoneses têm demonstrado mais interesse?

RX – Os sectores de maior interesse manifestados pelos empresários japoneses incidem sobre agricultura, energia e águas, transportes, minas, petróleo e gás.

ANGOP – E quanto à desminagem?

RX – O Japão tem sido um dos poucos países que abraçaram esta questão como se fosse sua. Esse processo caminha muito bem. Recentemente, foi assinado mais um acordo para a assistência não reembolsável no domínio da desminagem, no valor aproximado de 2,3 milhões de dólares norte-americanos.

Este esforço do Japão tem por objectivo ajudar Angola a livrar-se das minas antipessoais, até 2025, com impacto na diversificação económica e na segurança das pessoas.

Desde 1990, o Japão já implementou perto de 74 projectos em várias áreas, com o objectivo de beneficiar directamente as comunidades locais, através do regime de base para o Governo angolano.

ANGOP – Sobre a cooperação no domínio da formação de quadros, tem uma estimativa do número de angolanos que estudam no Japão?

RX- A comunidade angolana no Japão é constituída por 59 cidadãos, distribuídos pelas categorias diplomática (19), residente e estudantil (40).

A maior parte dos estudantes é dos Ministérios da Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia. Há outros que estudam pela Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), frequentando pós-graduação, mestrados e doutoramentos.

Os cidadãos trabalhadores foram, no passado, bolseiros que optaram por permanecer no Japão. Há, inclusive, um cidadão que é professor de Matemática, bem como outros que constituíram família e estão inseridos no mercado de trabalho.

Regra geral, há uma excelente coabitação entre os membros do corpo diplomático e da comunidade, muito por conta das várias iniciativas de inclusão dos mesmos nas diversas actividades que são realizadas na embaixada e na residência oficial.

Existe um Consulado Honorário, aberto em 2021, que funciona na Prefeitura de Nagoya, cujo cônsul é o senhor Ichiro Kashitani, também presidente da Toyota Tsusho Corporation.

ANGOP – Podia adiantar-nos as especialidades mais feitas pelos estudantes angolanos?

RX – A maior parte dos bolseiros frequenta os cursos de Ciências Exactas, bem como de Tecnologias de Comunicação e de Informação. Um dos factores pelos quais o número de bolseiros é reduzido deve-se a uma débil formação dos estudantes nos ensinos de base e médio, relativamente às Ciências Exactas e à Língua Inglesa.

Esse aspecto acontece especialmente quando confrontados no primeiro teste de admissão, que é realizado na Embaixada do Japão em Luanda, sendo logo eliminados.

ANGOP – O que Angola pode esperar mais do Governo do Japão em termos de cooperação bilateral?

RX – Angola espera e deseja um apoio maior e mais concreto nos domínios económico, financeiro, bem como nos sectores da indústria e da manufacturação. O campo é bastante vasto, porque as empresas japonesas têm muita qualidade e são muito competentes.

Como nota final, gostaria de frisar que, neste momento, o Japão implementa vários projectos nos sectores da Educação, Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, da Geologia e Minas, das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, da Agricultura, Transportes e da Saúde, com realce para a requalificação da Baía do Namibe e portos comercial e mineiro de Sacomar.

Cooperação

A cooperação bilateral entre Angola e o Japão teve iniciou-se em 1988, com a ajuda de emergência através do Fundo Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Depois do fim do conflito armado, em 2002, como resultado da visita da então ministra dos Negócios Estrangeiros, Yoriko Kawaguchi, foi enviada, em Fevereiro de 2003, uma missão de estudos para o apoio ao estabelecimento da paz, passando o Japão a realizar assistências às áreas de desminagem, bem como reinserção e reintegração social de ex-soldados e refugiados.

Para além disso, no período pós-conflito, no âmbito da reconstrução nacional, o Japão tem realizado a sua assistência bilateral a Angola, através de organizações internacionais, esforços para a reconciliação nacional, ajuda alimentar, assistência aos agricultores, assistência ao repatriamento de refugiados, desminagem, instalações de abastecimento de água, construção de escolas primárias, rede de comunicação e portos, com foco em infra-estruturas básicas.

No sector da Saúde, o Japão doou, em 1996, 40 milhões de dólares para a reabilitação e equipamento do Hospital Josina Machel, um dos melhores do país, assim como a aplicação de desenvolvimento de recursos humanos para os 750 técnicos.

No âmbito da cooperação económica, nos últimos anos estão a ser utilizados conhecimentos e experiências do Japão nas áreas de desenvolvimento de cultivo de arroz e de formação profissional.

Actualmente, a cooperação com Angola assenta em três pilares: apoio ao desenvolvimento económico (formação profissional, infra-estruturas principais e agricultura), manutenção da paz (reintegração social de ex-soldados e refugiados, desminagem e gestão do Governo) e segurança humana (saúde, medicina e alimentação).

Localizado no Extremo Oriente e conhecido como ‘Terra do Sol Nascente’, o Japão é constituído por um arquipélago montanhoso, formado pelas ilhas de Kyushu, Honishu, Honshi Shikoku e Hokkaido.

País insular no Oceano Pacífico, tem cidades densas, palácios imperiais, parques nacionais montanhosos, bem como milhares de santuários e templos.

Perfil

Nascido a 12 de Outubro de 1954, em Luanda, Rui Orlando Ferreira de Ceita da Silva Xavier é licenciado (Universidade Autónoma de Lisboa) e mestre em Relações Internacionais.

Nomeado em Novembro de 2018, já exerceu os seguintes cargos: Director da Direcção dos Assuntos Multilaterais (Ministério das Relações Exteriores), chefe do Departamento da Divisão de Agências Especiais e da Direcção dos Assuntos Multilaterais, ministro-conselheiro na Embaixada de Angola em Portugal, chefe do Departamento da Europa Ocidental, bem como conselheiro da Embaixada de Angola na Itália.

Na sua folha de serviço, destacam-se, também, as funções de chefe do Departamento da antiga Organização de Unidade Africana (OUA), hoje União Africana – UA (Direcção de África e Médio-Oriente) e do Departamento das Relações Externas do Ministério das Relações Exteriores (MIREX) de Angola.

Fonte: ANGOP

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